10/04/2013

a incrível mulher careca

Dia desses estava pensando sobre como coisas tão simples podem ser potencialmente valorizadas, nesse caso de forma negativa, por algumas pessoas. Não é surpresa para meus conhecidos e para meus poucos leitores que minha mãe tem câncer de mama e, como toda portadora da doença que faz tratamento quimioterápico, ela está careca, e é sobre a reação das pessoas na rua à essa careca que vou escrever agora.
Esse é o segundo momento da vida de mainha que ela tem câncer. A primeira vez foi em 2007 e ela também fez quimio, perdeu o cabelo (no dia que o cabelo começou a cair eu não estava em casa e não participei desse momento com ela, mas da segunda vez fui eu quem raspou a carequinha linda *.*) e ficou usando peruca. Lembro do dia que ela chegou em casa de peruca, foi super engraçado porque ela tinha saído para ir resolver umas coisas no centro da cidade e eu fiquei em casa dormindo, quando ela voltou me acordou e eu, ainda em estado sonolento, fiquei sem entender aquela pessoa de cabelos pretos e lisos se balançando na minha frente: era mainha com uma peruca chanel preta e linda. Ela tinha várias e adorava cada dia sair sendo uma nova Glauce (seu nome).
Nesta segunda vez da doença ela decidiu não usar peruca porque Recife está uma sucursal do inferno em termos de calor; ela usa chapéu, boné, só não usa, de jeito nenhum, toucas e lenços, porque acha que fica muito com cara de paciente terminal (coisas de mainha rsrs). Mas tem momentos que está tão quente e ela sente tanto calor que sai sem nada na cabeça, deixando à mostra a careca, que diga-se de passagem é linda, não é porque é da minha mãe não e o fato de eu ser uma filha coruja também não tem nada a ver com isso (rsrs). E nesses momentos de exposição da careca nas ruas de Recife aparecem todos os tipos de reações e olhares duradouros que em alguns momentos chegam a incomodar realmente e olhe que mainha é super tranquila em relação a isso. Às vezes a coisa é tão indiscreta que já vi pessoas passarem por ela e voltar só para encarar a careca e, por mais que a pessoa tenha uma cabeça tranquila, chateia e, dependendo do estado de espírito, magoa e muito.
Não entendo o choque das pessoas ao ver uma mulher careca. Não sei se é porque a sociedade machista em que vivemos diz que mulher tem que ter cabelo, e de preferência longos, se é porque deduzem que ela tem câncer e 'como pode um paciente portador desta doença andar pelas ruas em vez de estar internado num hospital?', ou vai ver acham que mainha é uma dessas coroas 'porra-loucas', remanescentes da década de 70 e do movimento hippie, que raspa a cabeça e sai na rua querendo 'chocar' (rsrs). De fato não sei o porque dessas reações, o que sei é que quando esse tipo de coisa acontece sinto uma enorme vontade de falar umas poucas e boas verdades, mas depois que o momento de fúria passa só consigo sentir pena porque, afinal de contas, essas pessoas não fazem por maldade e só refletem uma ignorância que, infelizmente, é comum nesse país onde a educação e o acesso à informação fica em segundo plano.
O bom disso é que a gente só se fortalece com as provações que passamos e mainha é quase uma rocha, uma rocha com um coração de manteiga enorme e isso só me faz admirá-la cada vez mais.


PS: para ilustrar o post, a foto de um símbolo feminino que também ficou careca e continuou linda: a Barbie ;) rsrsrs.

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